QUEM SOU EU

Sou professora de Francês, mas hoje minha principal atividade é escrever e ler, além de cuidar dos meus três vira-latas: Charmoso, Príncipe e Luther.



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terça-feira, 25 de setembro de 2007

O “Samba do crioulo doido”

Alguém se lembra daquele samba, já bem antigo, de Sérgio Porto, chamado o “Samba do crioulo doido”? Era uma sátira aos sambas-enredo das Escolas de Samba, que falavam da História do Brasil. Todos rimos com a letra maluca que contava nossa história na “visão” dos sambistas do morro. Lembro-me de algumas estrofes esparsas: “Foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina, arresolveu (sic) se casar. A Chica da Silva tinha outro pretendente e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes...” E assim por diante.
Pois neste domingo, li no Globo um artigo que pode rivalizar em matéria de asneirice com a samba gozador do velho Ponte Preta. Só que quem a assinava não pretendia fazer gozação! Era de arrepiar os cabelos! E assinado pelo Senador Mercadante. E é de arrepiar não só pelo arrazoado, que agride nossa inteligência, mas, acima de tudo, pelas bobagens históricas que o ilustre parlamentar escreve ou assina, o que afinal, dá no mesmo.
Para ilustrar sua defesa, ele começa falando do filme “Danton” do cineasta polonês Wajda. E aí começa a torrente de bobagens. São tantas que talvez não haja espaço para comenta-las. Mas vamos lá. Logo de cara cita Danton como chefe dos Girondinos. Ora, Danton jamais fez parte do grupo dos Girondinos - na verdade, eram inimigos - e se o tivesse feito não estaria vivo para brigar com Robespierre. Girondinos foram TODOS guilhotinados, acusados de contra-revolucionários, algum tempo antes da execução de Danton. É claro que o Senador não tem obrigação de conhecer a história da Revolução Francesa, o que se pede é que não publique inverdades. Continuando, ainda mais estarrecedor, diz: “(Danton) é transparente, corajoso e conciliador... Robespierre é, ao contrário, personagem opaco, intransigente, pusilânime...” Aí não dá pra segurar, o ilustre Senador não entendeu nada do filme. Talvez, se fosse mais, só um pouquinho mais, perspicaz, ele veria que, ao longo do filme, Danton mostra-se um sujeito ardiloso, um populista inescrupuloso, confiante na sua inteligência superior e no seu poder de tribuno. Aliás, estava mais do que comprometido com negócios escusos da Companhia das Índias. E Robespierre, que passou à história como o “Incorruptível” virou um sujeito tacanho, covarde, ressentido. Ao invés de “Incorruptível” foi transformado pela debilidade mental deste petista em Robespierre “O Pusilânime”, segundo as próprias palavras do dito cujo Senador. E Danton, que promoveu matanças indiscriminadas, antes de querer a conciliação, por pura espertice, virou “transparente, corajoso, conciliador”.
E pasmem, comparou aquele achincalhe de qualquer principio moral a que assistimos estarrecidos naquela fatídica quarta-feira à condenação dos dantonistas! Até tentando comparar Danton a si mesmo ou a Renan! E continuando o samba do crioulo doido, justifica a sua abstenção indecorosa, que ajudou a absolver o bandido, com o fato de que há outros três processos contra Renan. Ou seja, se um bandido é julgado por estupro e há ainda outros processos contra ele, digamos, pedofilia e assassinato, ele deve ser absolvido do primeiro e esperar que os outros aconteçam. Ou seja, o bandido foi absolvido do primeiro crime porque tem outros! Se fosse acusado SÓ de estupro, teria sido condenado! O que mostra claramente que vale a pena ser bem bandido no Brasil do Lula. E termina: “... no necessário combate à impunidade, não podem prevalecer os linchamentos e os julgamentos políticos, típicos da intransigência irracional de Robespierre, mas sim a racionalidade e o respeito aos direitos e garantias individuais presentes na coragem cívica de Danton”. (Socorro mamãe!!!!!!!!!!!!!!)
Aliás, é bom notar que Danton tinha na sua retaguarda todo o mundo financeiro da época, o que é dito no filme, e que este mundo endinheirado vingou-se três meses depois de sua execução, levando à guilhotina, sem julgamento, todo o “Comité du Salut Public”. Então, Senador, leia mais, informe-se, cultive-se e, quando o filme for mais intelectualizado, peça a alguém para lhe explicar.

O ilustre Senador ouviu cantar o galo e não sabe onde, mas, na sua ignorância, acabou acertando: comparou-se ao mais safado dos grandes revolucionários: Danton.

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